Tiago Baptista

Nunca se sabe muito bem o que esperar de Tiago Baptista. Pinta, desenha, escreve e ensina.

O que está aqui mostrado nesta edição da Casa Plástica é pintura, que, para mim, é onde brilha com mais intensidade. Tenho acompanhado de forma mais ou menos regular a transformação do corpo de trabalho dele e vejo que existem traços muito próprios em tudo o que apresenta. Um destes traços que exalto é que, de algum modo, o Tiago está a tentar contar histórias — mas ao invés de ter uma interpretação formal única, como acontece com a ilustração, aqui a interpretação é subjetiva.

Quando o conheci, a sua pintura apresentava uma narração detalhada, composta por inúmeros elementos em cada tela. Paisagens, natureza morta e personagens em situações insólitas eram cenários retratados com frequência. A mesma narrativa sempre esteve lá, mas a minha interpretação dela era renovada a cada olhar.

Agora, passados uns valentes anos, noto que tem vindo a povoar cada vez menos as telas. Ao invés de contar uma história com muitos elementos, conta-a com apenas alguns detalhes eximiamente pintados. Seja apenas um rosto pequeno numa tela grande, ou uma mera bola de baseball modelada ao milímetro — a história continua lá, contudo muito mais sintetizada. E assim, a subjectividade amplifica-se.

Nesta ocasião foi proposto ao Tiago dar continuidade a uma ideia que tem vindo a desenvolver. Partindo das telas expostas, a narrativa que aqui nos propõe extravasa os limites do próprio suporte — a tela —, invadindo o espaço da própria exposição.

Resultado: não sei — nunca sei muito bem o que esperar de Tiago Baptista. É ver com os próprios olhos.

Leonardo Rito, Maio de 2022

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