Gonçalo Pena

Olhando o corpo de trabalho de um artista que expõe com regularidade durante um longo período de tempo, é geralmente fácil encontrar fases distintas. Estas fases são movidas por escolhas estéticas, e/ou temáticas, e/ou técnicas, diferentes das anteriormente utilizadas — e que com o tempo se tornam um estilo. A maioria das vezes estes estilos são alicerçados em fases anteriores, mas em alguns nota-se uma disrupção completa com o período transacto. E porque estas transformações não são sempre relacionadas com o trabalho imediatamente anterior, não se pode afirmar que se trata de uma evolução, mas sim de uma mutação. Esta será então a palavra chave — ao invés de evolução — e, estabelecer uma relação entre as mutações de estilo, o estado da arte e a vida pessoal do artista, não é um exercício difícil.

Gonçalo Pena é um destes artistas, que se está sempre a transformar.

As pinturas aqui reunidas mostram de um modo leviano (mas óbvio) que, embora o autor afirme que "cada tela é um trabalho independente", as mutações de estilo podem ser distintas por períodos de tempo concretos, com um início e um fim.

São dezoito telas pintadas a óleo entre 2009 e 2021, apresentadas por ordem cronológica para que estas mutações de estilo se verifiquem. Compete ao espectador tentar estabelecer as diferenças e encontrar entre elas, quais as que comunicam consigo melhor ou pior.

Quando estes períodos se findam, é apresentada uma seleção em exposições públicas e privadas, organizadas em galerias, museus ou mesmo em festivais com a natureza deste nosso festival. Alguns trabalhos são adquiridos, outros ficam em consignação, e os restantes voltam para o atelier. Destes últimos, a grande maioria é pintada por cima mas, por uma ou outra razão, por vezes sobra uma ou outra pintura.

Nesta exposição temos o privilégio de poder ver uma reunião destas telas que sobraram — umas porque o autor tem uma certa empatia com elas, outras apenas porque ainda não chegou o seu momento. Nunca se sabe se estas telas um dia deixarão de existir, seja porque foram entregues a mãos que as desprezam, como acontece tantas vezes, seja porque acabarão por ser pintadas por cima. Por enquanto ainda temos a oportunidade de nos enriquecermos com este olhar crítico e irónico, único de Gonçalo Pena, nestas dezoito telas.

Mas aproveitemos! — que nunca se sabe o dia em que tal privilégio se findará.

Leonardo Rito, Maio de 2022

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